quarta-feira, março 13, 2013

Fim de semana com Astrid, Dimas e Salomão (Nilto Maciel)



A maioria das publicações trazidas à minha casa vem de amigos. Como recebo diariamente, pelo menos, um impresso, a conclusão é estarrecedora (no bom sentido): tenho amigos para o ano todo. Estão ali, doidos por um afago, cerca de uma dúzia deles (os tomos, não os amigos). Pisquei o olho para cada um e murmurei: Venham cá, seus malandros. E trouxe ao colo três dos mais afoitos: Vagem de vidro, Coeur sans frein e Uma sombra no espelho. São de Salomão Sousa (meu amigo há mais de 30 anos), Astrid Cabral (minha amiga desde os bons tempos de Brasília) e Dimas Carvalho (que mora bem ali, em Acaraú, mas telefona para mim todo santo dia – de licença, em Fortaleza – e me convida a almoçar, de vez em quando, ou, nas noites de muita solidão e tédio, para visitar uma cunhã qualquer).

Pelo visto ou pelo andar da carruagem, não comentarei as coletâneas e ficarei nessa lengalenga de quem não lê nada e não sabe distinguir soneto de sonata. Engano vosso, leitores impacientes e exigentes: li todos os poemas, fiz anotações à margem dos opúsculos e tenho, sim, intenção de anotar umas frases a respeito das três obras. Parto, então, de Vagem de vidro, a primeira a chegar a mim.

Salomão Sousa

Poeta moderníssimo, Salomão tem adotado todos os procedimentos do verso em suas modalidades mais novas, desde o livro inaugural de sua trajetória, A moenda dos dias, que é de 1979. No entanto, não copia ninguém e não se repete. Conhece os múltiplos caminhos da poesia (e da prosa também, seja ela ficcional, filosófica ou estrambótica).

Neste novo empreendimento verbal – Vagem de vidro –, o menestrel de Silvânia/Brasília apresenta cantos sem título (uns divididos em estrofes). E dá o pontapé inicial assim, com força, vigor ou garra: “Todo preâmbulo inaugura o medo”. Porque Salomão vem de antes, do tempo de Homero, de gregos e troianos, dos vates latinos, dos descobridores da Grécia (a Hélade e seus mitos), dos rapsodos modernos aos mais recentes. Vem pleno de poesia, de metapoesia, metalinguagem, em metapoemas de diversos feitios, vem inflado de enigmas, mistérios, ambiguidades, metáforas e parábolas. Vem entranhado de intertextualidade. Com citações e referências à melhor literatura nacional e estrangeira. Essa percepção advém de inúmeras e ricas leituras. Sem qualquer vassalagem a esta ou aquela tendência literária ou autor, por mais admiração que nutra por certos ícones da arte da escrita. Não, Salomão tem um léxico próprio, ou intertextualizado. E assim o dizemos, sem medo de ofendê-lo; pelo contrário, pois só quem lê muito, quem tem clara noção do mundo e suas profundezas, dos seres, seus comportamentos e suas expressões, é capaz de cultivar a paráfrase, ou de se envolver no processo de recriação da linguagem.

Essas incursões ao passado histórico ou literário não significam, no entanto, regressões, mas construções de pontes para o presente (seu e da sociedade): “E se houvesse entendimento ou / a extinção da linha do tempo, / quem iria recolher o sal, / construir a alvura ou / estrear o lençol e a luz?” (p. 13). O passado ele o traz para o seu (o nosso) presente (mundo, realidade), as agruras, as misérias, as iniquidades do homem moderno: “O edema, o sequestro relâmpago. É a ausência do fluir. / Se não há herói para ir a Ítaca, à Esplanada, / os homens a enrijecer-se” (p. 21); “a balconista que surgirá / ensanguentada no noticiário nacional” (p. 26); “a bala perdida / na mãe de uma criança ao colo” (p. 34).

Astrid Cabral

O segundo conjunto veio do Rio de Janeiro, em português e francês. Mal consigo ler o português brasileiro (o da Coroa nem ouso pronunciar), imaginem a língua de Paris. Não importa, Astrid; serei breve. Na capa, somente a denominação estrangeira: Coeur sans frein. Na folha de rosto, o título nos dois idiomas: Coração à solta, sobreposto a Coeur sans frein (de cabeça para baixo). Na capa e na segunda folha: “traduit librement du brésilien par l’auteure”. São hinos de amor, obviamente. Do começo ao fim: “Amor como tremor de terra / abalando montanhas e minérios / nas entranhas da minha carne”. Assim traduzidos (os versos): “Amour, tremblement de terre / secouant montagnes, minéraux / dans les entrailles de ma chair”.

Nesse volume, a poetisa não se peja de utilizar a primeira pessoa (eu lírico) para relatar peripécias do amor, em cânticos fesceninos e de nudez, de corpos em conluio, como o praticaram exímios criadores desde o início dos tempos da mais astuta racionalidade do sexo, em Lesbos (Safo), com os bardos gregos (Anacreonte). “Crava em meu corpo essa espada crua. / Quero o ardor e o êxtase da luta / em que me rendo voluntária e nua”. Em francês: "Enfonce dans mon corps cette épée crue. / Je veux l’ardeur et l’extase de la lutte / à laquelle je me rends volontaire et nue”.

Exercita-se também Astrid nas formas verbais da narração (narradora/espectadora), na revelação dos dramas amorosos dos outros ou de personagens: “Moravam na mesma casa / mas em variados mundos./ (...) Em solidão se espelhavam”. Em francês: “Ils habitaient la même maison / mais dans des mondes différents. / (...) En solitude ils se réfléchissaient”.

A linguagem poética de Astrid Cabral nessas jóias só raramente se esfumaça em construções simples, do nosso cotidiano, em constatações ou afirmações. Disso são exemplo versos como estes: “atear-lhe urgente o fogo do amor”. Ou estes mais exuberantes, mais gritantes: “Ao lado de um orgasmo / que são palmas e aplausos?” O poemeto “Sem maquilagem” é quase minicrônica.

Dimas Carvalho

O mais jovem dos três trovadores também está maduro. Não de hoje (há tempos comentei outra brochura dele e o fiz com louvores). Com este Uma sombra no espelho, Dimas demonstra toda a sua erudição. Desde o portal da casa, com um soneto (“Pórtico”), à maneira de confessionalismo de mártir: “o que eu escrevo é a queixa / de quem já fui, de quem eu mais não sou”. Seguem-se umas quadras (ele que é viajante do Brasil e do mundo) mineiras (escritas em São João Del Rey).

Num passar de vista abrangente e sem grandes preocupações estéticas, o leitor comum veria um pouco de Bocage, outro tanto de Antero de Quental, talvez uns resquícios de Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro (Dimas é contumaz leitor da poesia portuguesa, como o é de toda a boa poesia) em certas peças desse novo repertório: “dentro de mim estive sempre ausente / fora de mim também não me encontrei” (p. 16).  Também traz latim, que o homem é versado em idiomas e na melhor tradição literária. Como em “Quia pulvis es”, extraído da locução religiosa “Memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris”, ou “Lembra-te, homem, que és pó e ao pó tornarás”. Como um sacerdote, um conselheiro, esmiúça a velha locução em vinte versos curtos: “tira os teus anéis / despe tuas roupas / queima as insígnias” (...) “despe-te de tudo / porque a Terra chama / e o útero profundo / vai te devorar” (p. 18).

Além de exímio cultor do soneto (seja na forma camoniana ou petrarquiana, seja na versão inglesa), Dimas Carvalho maneja outras modalidades poemáticas: elegia, sonata, canção, cântico, rondó, etc.

Porém, nem só de latim e tradição se faz a poesia de Dimas. Com dicção própria (mesmo que vejamos influências – e isto é muito natural em todo inventor – deste ou daquele lavrador de versos, de um ou de outro período histórico), o jogral cearense não se descuida dos mais modernos e seus contemporâneos. Basta ver as epígrafes de que se valeu: Ezra Pound, Salvatore Quasimodo, Giuseppe Ungaretti, Mário Quintana, Francisco Carvalho, Carlos Augusto Viana e Paulo Leminski. E a série de homenagens a alguns dos mais engenhosos polidores de safiras: Fernando Pessoa e Camões (“Uma tarde no Chiado”), Jorge de Lima, Rilke, Vinícius e Augusto dos Anjos.

Conclusão

E mais não direi, para não tirar ao leitor o prazer de ler e reler estes três bons ficcionistas brasileiros e com eles viver no interior de espelhos, povoados de amor e erotismo, numa vagem (seria uma redoma?) de vidro, ao mesmo tempo longe do hoje e perto do ontem, que é o sempre. Pois a poesia de Astrid Cabral, Dimas Carvalho e Salomão Sousa é bela e será duradoura.

Fortaleza, 2 a 5 de março de 2013.

Dhiogo José Caetano de Uruana, Torna-se Membro Honorário imortal da Acla


Dhiogo José Caetano de Uruana, Torna-se Membro Honorário imortal da Acla
MEMBROS CORRESPONDENTES IMORTAIS( Nacional e Internacional):

Cadeira - Acadêmico - Categoria - Localidade de residência - Cargo

115- Dr. José Gomes da Silva Neto – Psicanalista e Psicoterapeuta – Delegado Regional da ACLA/MG – Cachoeiro do Itapemirim/ES.
116- Paulo Henrique dos Santos Ferreira – Professor de História/ Patrimônio Cultural – Delegado Regional da ACLA/MG – Curuçá/ Pará. 
117- Bárbara Pérez – Escritora/ Presidente da Academia CACL de Marataízes – Delegada Regional da ACLA/MG – Marataízes/ES. 
118- Roberto Vital da Silva – Artesão – Delegado Regional da ACLA/MG – Igarassu/Pernambuco.
119- Sciortino Antonio Nato A. Palermo – Professor de Teologia – Monreale/Itália. 

MEMBROS HONORÁRIOS IMORTAIS - QUADRO 04:

Cadeira - Acadêmico - Categoria - Localidade de residência - Cargo

133-S.A.R.I. Principe Dom Alexander Comnène Palaiologos Maia Cruz – Presidente da FEBLACA – São Paulo/SP .(H. Internacional) 
137-Dom Carlos Santos Saavedra Bravo – Soberano Gran Maestre Comandante General/Soberana Orden Militar Del Deber Sagrado. Venezuela (H. Internacional). 
138- Dr. Raimundo Holgado Cantalejo – Presidente Provincial de La Asociación Española de Amigos de lós Castillos- Espanha (H. Internacional). 
139- Dr. Jésus Acácio de Oliveira – Professor/Filósofo/Poeta e Escritor – Brasília/DF. 
140- Dhiogo José Caetano – Professor/Escritor/Poeta – Uruana/ Goiás. 
Dhiogo José Caetano -Dhiogo José Caetano é de Uruana interior de Goiás; filho de Valdson Caetano Filho e Lucinete José Veloso. Graduado em História pela UEG - Universidade Estadual de Goiás, jornalista, Pós graduado em Memória do Imaginário e Literatura . Tem diversos trabalhos e artigos publicados Jornal o Povo, Jornal o Dia, Jornal Diário da Manhã, Jornal Populacional, Canto dos Escritores, Só Poetas Por Vir, Poetas de Domingo, Poetas Livres e em outras revistas como: Revista Factus, Partes e Hímpeto Editorial. Também faz parte de projetos literários: Nova Coletânia, Rocco, Publicações Iara, Encantos do Brasil II da Mandio Editora, Novos Poetas da Editora Videira, Prêmio Valdeck, Editora Celeiro, Editora Literacidade, Poesia Encanta II, III e IV, Canapé, Litteris, Palavras Sem Fronteiras. É colunista: Poetas Brasileiros, Mar de poemas. Artista revelação 2011 prêmio organizado pela Interarte juntamente com Academia de Letras de Goiás, ganhador do prêmio cultural Interarte 2012, Prêmio Nacional Olavo Bilac 2012, Prêmio Nacional Buriti 2012. Correspondente das academias: ACLAC Academia Cabista de letras e Artes, ARTPOP Academia de Arte do Rio de Janeiro , CACL Academia Marataizense de Letas do Estado do Espírito Santos membro da AVSPE Academia Virtual Sala dos Poetas, Escritores, membro da ACLA, Comendador da ALG Academia de Letras de Goiás Velhos, Correspondente da Academia de Letra do Brasil/Suíça, Senador da FEBACLA Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes, Cavaleiro Comendador da Ordem Soberana , Militar do Dever Sagrado Extraordinary Member of the CSLI e Master Sergeant CSL. O seu objetivo é continuar a caminhada em direção do ensinar e aprender, corroborando para a publicação de diversos textos, livros, artigos, poemas, etc. Currículo Lattes:  http://lattes.cnpq.br/1318205190902971

MEMBROS HONORÁRIOS IMORTAIS - QUADRO 05:

Cadeira - Acadêmico - Categoria - Localidade de residência - Cargo

141- Dr. Alan Simião – Marquês de Askos – Rio de Janeiro/RJ.
142- Dom Leandro Ribeiro – Duque Dom dos Ribeiros de Sarmathia – Rio de Janeiro/RJ.
143- Dr. Hércules Pires do Nascimento – Conde Pires do Nascimento – Rio de Janeiro/RJ.
144- Dr. Oséas da Silva Costa – Visconde do Vale de Kastoria – Rio de Janeiro/RJ. 
145- Major Ivani Damasceno – Militar da reserva- Ponte Nova/MG. 
146- Leila di Domenico – Artista/Ativista Cultural – Chapecó/ Santa Catarina. 
147- Ladir Wigikoski - Artista/Ativista Cultural – Chapecó/ Santa Catarina. 
148- Carlos Alberto Hang - Artista/Ativista Cultural – Joinville/ Santa Catarina. 
149- Dalci Schneider Filho - Artista/Ativista Cultural – Balneário/ Santa Catarina. 
150- Rosecler Hoss - Artista Plástica – Chapecó/ Santa Catarina.
151- Maria Dolores Pimentel Rezende - Escritora/ Professora - São José do Calçado/ES.


Dhiogo José Caetano Professor, escritor e jornalista 
Comendador da Academia de Letras de Goiás.  Senador da FEBACLA Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes 
Membro das Academias:  ALB (Brasil/Suíça), ACLAC (RJ),  ACLA (MG), CACL (ES), ARTPOP(RJ) e OsConfradesdaPoesia (Portugal)