terça-feira, março 30, 2010

Pérolas literárias de Goiás

Pérolas literárias de Goiás
Diário da Manhã (Goiânia) 16 de Março de 2009 |
Alysson Assunção
alyssonassuncao@dm.com.br
da editoria do dmrevista

Os livros são as expressões materiais da nossa cultura. Em todo o País, o ensino da literatura é obrigatório e serve para preservar as marcas e a história de cada povo. Goiás tem excelentes romancistas, poetas, contistas, jornalistas e historiadores, que escrevem obras que contam um pouco do nosso passado e têm o poder de nos fazer viajar em tramas cheias de fantasias. Mas será que todos têm acesso às mais importantes obras da nossa literatura?
Se você nunca ouviu falar de livros famosos de autores goianos, não se culpe, pois não é o único. Embora muito rica, a tradição literária produzida em Goiás surgiu tardiamente e, se comparada a outras regiões, ainda carece de maior expressão. Mesmo sendo indicados nos vestibulares do Estado todos os anos, os livros de autores goianos ainda parecem ser bastante desconhecidos da maioria da população.

Clássicos
O escritor José Mendonça Teles, ex-diretor do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, considera que nossa literatura tem poucos clássicos. Ou seja, falta reconhecimento em nível nacional. “Dentre os nomes mais importantes da literatura goiana dentro do contexto nacional, posso citar Hugo de Carvalho Ramos, Bernardo Élis, José J. Veiga e meu irmão, Gilberto Mendonça Teles.”
Segundo ele, estes escritores criaram obras com maior representatividade, que se tornaram clássicos. De fato, Tropas e Boiadas (1917), de Hugo de Carvalho Ramos, é tida como a primeira obra formadora de uma tradição literária goiana, ainda no período do Pré-Modernismo. O livro, que mistura contos e crônicas, contribuiu para os fundamentos do regionalismo literário. O professor Heleno de Godoy, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás, ressalta que Tropas e Boiadas, de 1917, é a única obra goiana que é referência em todos os livros de literatura brasileira.
A escritora Maria Luiza Ribeiro, presidente da seção goiana da União Brasileira dos Escritores, diz que Bernardo Élis pode ser considerado o principal nome da literatura goiana. “Ele é o nosso imortal”, ressalta. Para ela, ao menos dois livros merecem destaque: Ermos e Gerais, reunião de contos lançada em 1944, e o romance O Tronco, de 1956. Segundo o jornalista e escritor Salomão Souza, autor de um blog sobre literatura goiana, Bernardo Élis foi fundamental por ser o primeiro goiano a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, além de ter ganhado importantes prêmios literários nacionais.
ilustres
O jornalista destaca a obra Veranico de Janeiro, de 1966. “Deste livro, o conto A Enxada representa para Goiás o que O Capote (obra-prima de Nicolai Gogol, de 1842) foi para a literatura russa”, avalia. Ele considera que outro autor que merece menção é José J. Veiga. Para ele, os seus livros mostram claramente a ambiência das cidades goianas. Algumas de suas obras retratam ainda o contexto vivido pelo País durante o início da ditadura militar.
Além dos autores clássicos citados por Mendonça Teles, Heleno Godoy aponta que um dos poucos que alcançaram reconhecimento em nível nacional é Afonso Felix de Souza, reconhecido por se aprofundar na condição humana. Não muito reconhecido pela crítica, José Godoy Garcia é citado por Gilberto Mendonça Teles como um dos nomes da poesia goiana. O jornalista Salomão Souza considera que Araguaia Mansidão (1972) é o livro que representa o amadurecimento do autor, sendo um dos pontos altos da literatura. “Trata-se de poesia legítima, com cheiro da terra, das águas, do ar, do fogo goiano.”
Cora Coralina
Entre os escritores consagrados pelo público, Cora Coralina tem lugar de destaque. Caso raro na literatura brasileira, a poetisa só se consagrou em 1980, aos 91 anos, com a publicação de carta aclamativa de Drummond. Desde então, ela é reconhecida como porta-voz da realidade interiorana do Brasil Central, já afetada pelo avanço da modernidade. Além disso, ela é admirada pela transparência com que se coloca em suas crônicas e nas poesias, além de retratar como ninguém os cenários da cidade de Goiás.
Outro nome importante destacado pela presidente da UBE, Maria Luiza Ribeiro, é o de Augusta Faro. Segundo ela, a autora mistura elementos de poesia com o fantástico e o absurdo. Prima de Bernardo Élis, nascida em Goiânia em 1948, Augusta ganhou reconhecimento depois de ser comparada ao colombiano Gabriel García Márquez, em um ensaio do jornalista Roberto Pompeu de Toledo. A Friagem (1998) é o livro de contos que lançou a autora no universo literário brasileiro. Augusta também escreve histórias infantis, contos e poemas.