sábado, julho 16, 2011

Novamente Alaor Barbosa

Caminhos de Alaor

Manoel Hygino dos Santos

HOJE EM DIA, Belo Horizonte, quarta-feira, 13 de julho de 2011.

Entre meus amigos-escritores, está Alaor Barbosa, autor de muitos e bons livros, alguns com lançamento no exterior mesmo antes de chegar às livrarias brasileiras. Goiano, membro da Academia de Letras daquele Estado, colaborador de revistas e jornais, redator de alguns dos mais prestigiosos diários brasileiros.
É de posições e decisões. Foi assim e assim continua. Autor de uma preciosa biografia de Guimarães Rosa, viu o trabalho proibido de circulação, por iniciativa de herdeiros do notável ficcionista de Cordisburgo. O processo paira na Justiça.
Quando a Academia Mineira de Leras, na gestão de Murilo Badaró, resolveu - em comemoração ao centenário de Rosa - promover uma série de conferências, lá estava Alaor para tema tão oportuno e relevante. Foi um sucesso. Aproximou-se de Nélson Hoffmann, amigo comum, gaúcho da fronteira com a Argentina, advogado, professor e conceituado ficcionista.
Sabendo, que aquele seria homenageado emprestando seu nome a um centro cultural, Alaor não se intimidou com a distância. Partiu de Brasília e lá foi para as margens do Rio Uruguai para associar-se à manifestação de apreço e respeito ao homem e à sua obra.
Para este Alaor a que me refiro, não há distâncias ou quaisquer outros obstáculos. Vai até onde acha que deve, faz o que lhe parece necessário. Assim é também na produção jornalística, nos artigos e nos ensaios, nas palestras, onde julga que a sua participação é conveniente, combatente e incansável.
Não sem razão Wilson Martins, crítico literário dos maiores que o Brasil teve nos últimos cem anos e recentemente falecido, situou Alaor Barbosa ao lado de Balzac, Thomas Hardy, Eça de Queiroz, Dostoievski, Graciliano Ramos e Giovanni Verga. Só isso já constituía um atestado de competência e prestígio.
Para Mário Jorge Bechepeche, autor de "O Senso da Obra Aberta na Literatura e o Modelismo Conjuntivo da Atualidade", Alaor é "daqueles autores cujo conjunto da obra forma um alentado e luminar panorama literário". Em análise da obra de autor nascido na interiorana Morrinhos, Bechepeche acha natural que autores de produção intensa em volume cheguem a construir um panorama, um verdadeiro universo de caracteres que se destacam, por englobarem, em muitos livros, uma particularidade geral. No autor de Goiás, prepondera a imagem de Imbaúbas, a cidade do interior que seria como o espelho da Morrinhos natal.
"Com o ícone Imbaúbas campeando em toda sua obra e até título de uma delas, arrola (Alaor) uma transcedência estética e antropológica que estabelece um mundo de características formando uma dicção, uma expressão do "modus vivendi" do mundo do sertão agreste, rústico, bravio, inculto. É um carimbo dos mais importantes em seus textos, igualmente auspicioso e magistral para a Literatura Brasileira". Para o crítico, no confronto de faces sociais, vê-se que Alaor Barbosa deu universalidade ao Sertão", como gênio das letras e do pensamento. Basta isso.

domingo, maio 29, 2011

BARTOLOMEU ANTÔNIO CORDOVIL

Este é talvez o primeiro grande poeta goiano, mas escreveu muito pouco. Deixamos um poema dele (talvez o primeiro poema importante feito em Goiás, por volta de 1800, ano de falecimento do autor)

BARTOLOMEU ANTÔNIO CORDOVIL
(pseudônimo de Antônio Lopes da Cruz)
(1746—1810)

Nasceu no Rio de Janeiro em 1746. Conforme alguns autores, ele teria nascido em Ouro Preto, Minas Gerais e de lá foi para Goiás. Esta versão contraria o próprio testamento de Bartolomeu Cordovil, que declarou ter nascido no Rio de Janeiro. Advogado pela Universidade de Coimbra (Portugal). Chegou em Goiás em 1783, como primeiro professor de Gramática Latina, nomeado pelo Governador Tristão da Cunha Menezes, em 1788, a quem dedicou o poema Ditirambo. Lecionou 12 anos no arraial de Meiaponte (hoje Pirenópolis), onde faleceu em 1800. Escreveu, entre outros poemas, "Ditirambo”, “Epístola”, “Às Ninfas", "Epístola aos Árcades do Rio de Janeiro", “Ode”, e “Proteu e Sonho”. Publicou, em Coimbra, uma tradução da Arte Poética, de Horácio. Foi descoberto como um dos primeiros poetas do território goiano em uma palestra de Waldir Castro Quinta.


DITIRAMBO

Ninfas goianas,
Ninfas formosas,
De cor de rosas
A face ornai.
Vossos cabelos
Com muitas flores
De várias cores
Hoje enastrai.
Sim, Ninfas, aplaudi tão grande dia!
E tu, doce Lieu, Pai da Alegria,
Vem-me influir,
Que os anos de Tristão quero aplaudir.
Olá, traze do Feno
O suave licor grato e sereno;
Traze os doirados copos cristalinos,
Venham Falernos,
Venham Sabinos,
Deita, deita, enche o copo; gró, gró, gró:
Não entornes, espera, que este só
Não é que havemos
Hoje beber;
Mais vinho temos
Sem confeição,
Para brindar
O bom Tristão.
Hoje à sua saúde
Pretendo de beber mais de um almude,

Evoé
O’ Padre Leneu
Saboé
Evan Bassareu.

Néctar suave, o’ quanto me consolas!
De mim se ausentem
Rixas, temores,
Penas e dores.
Venha outro copo de Baco espumante
Que ferva no peito,
E a mente levante.
Nos Lusos Fastos não se leia agora
Dos seus Maiores a brilhante história:
Com alheias ações não condecora
A sua alta memória
O bom Tristão delícias dos humanos.
O curso dos seus anos
Cheio não são deste furor guerreiro,
Que nos campos de Marte desbarata,
Rende, saqueia, obriga, assola e mata;
Mas esperem, que escuto!
Vejo os troncos bolir! Ah sim, bem vejo
Os Sátiros brincões, Faunos auritos,
Que cheios de desejo,
Saltando aos ares vem ruidosos gritos,
Os Caprípedes Deuses que diriam?
Se não me engano, em sua companhia
Vem Bistânidas Trácias ululando,
Agitadas na rúbida ambrosia,
Em coréas sincinas volteando,
Estas doces cantigas modulando :
Goianos louvemos
Tristão imortal,
Bebamos, dancemos,
Ausente-se o mal.
Os doces licores
Do bom Nictoleu
Em taças se entornem
De claro cristal.

Evoé
O padre Leneu
Saboé
Evan Bassareu.

Pois já que Tristão
De paz nos encheu,
Gostosos bebamos
O sumo de Oreu.
Traze, traze depressa o Peramanca,
Empine-se a botelha toda inteira.
Mas que chama ligeira,
Ao modo de uma tropa,
Pelas túmidas veias me galopa?
És tu, Brômio gostoso? Eu bem te entendo.
Bebamos mais aquele, que das ilhas
Me mandaram de mimo
Do Profundo Oceano as verdes filhas.
No licor forte o coração me nada,
Baco, Baco, evoé!
O que terei nos pés? eu cambaleio?
Caindo estou de sono:
Depois que esvaziei quatro botelhas,
Rúbidas tenho e quentes as orelhas,
O nariz frio, os braços estendidos,
Parece-me que gira a casa toda.
Já não posso suster-me; aos ouvidos
Sinto um leve sussurro:
O corpo tremelica, o chão me falta,
E julgo que esta casa está mais alta.
Como o teu elixir
Tão depressa, ó Leneu, me faz dormir?!
Agora eu queria
Cantar do bom Tristão
O seu cândido gênio,
O terno coração,
A presaga prudência,
A profunda modéstia,
A serena clemência,
A justa temperança,
Agora é que me fazes tal mudança?

Evoé
O’ padre Leneu
Saboé
Evan Bassareu.

Venha um corpo, dous copos, três copos,
Retinem nos ares
Mil brindes contentes.
E os povos ardentes
De suma alegria,
Nas aras do gosto
Com férvido mosto
Entoem gostosos
Sem mais dilação
Os anos ditosos
Do terno Tristão.

Evoé
O’ padre Leneu
Saboé
Evan Bassareu.

Sim, do grande Tristão tantas virtudes
O povo todo louve,
O neiva lhe dará muitos almudes
Deste espírito rubro,
Que colhe no Minho,
Que os pesares desvia,
Que o sono concilia,
Que alegra a mocidade,
Que faz vermelha a envelhecida idade.

Evoé
O’ padre Leneu
Saboé
Evan Bassareu.

Ercilia Macedo-Eckel

Na página que mantem na internet, Ercilia Macedo-Eckel — num estudo sobre a escritora Ada Curado, apresenta um pequeno resumo da evolução histórica da cultura em Goiás. Por este estudo, podemos ver como a cultura goiana é nova, se comparada à cultura europeia e mesmo com a brasileira. O desenvolvimento goiano é muito novo. Tomo a liberdade de reproduzi-lo abaixo:

"
2 Períodos da vida cultural de Goiás (seu Estado de opção)
A esquematização a seguir obedece aos critérios: cronológico, político e determinados por acontecimentos sociais e culturais (25: p. 29-32, com pequena alteração no que se refere ao 6º Período).
2.1. 1º Período: de 1726 a 1830 – Do início da história de Goiás à publicação do Matutina meia-pontense (Pirenópolis), com o predomínio da mineração e sua substituição pela pecuária e agricultura, o surgimento das primeiras cidades e o aparecimento das primeiras aulas e com elas o de nosso primeiro poeta: Antônio Lopes da Cruz (sob o pseudônimo de Bartolomeu Antônio Cordovil) com o poema Ditirambo às ninfas goianas (1790).
2.2. 2º Período: de 1830 a 1903 – Da publicação do Matutina meia-pontense à instalação da Academia de Direito de Goiás (24-2-1903), a que se seguiu a fundação de uma Academia de Letras (1904), de curta duração. Nesse período ocorreu também a fundação do primeiro jornal, o quarto do País, e semente para o jornalismo de idéias abolicionistas e republicanas. São desse período a criação do Liceu de Goiás (1847) e do Gabinete Literário Goiano (1864). Estética predominante: transição clássico-romântica, com predomínio do Romantismo nos fins do século XIX e início do XX.
2.3. 3º Período: de 1903 a 1930 – Da instalação de nosso primeiro curso jurídico e da Academia de Letras à Revolução de 1930, de que resultou a nova capital do Estado (,o casamento da autora em estudo com o Coronel Gentil, sua vinda para Goiás como “lugar de opção” e aproveitamento do assunto para temas de sua ficção). Estética: novas ideias parnasianas e simbolistas começam a tomar conta dos escritores, fechando-se o período com o predomínio do Parnasianismo. Mas o livro Ontem (1928), de Leo Lynce, marca o início do Modernismo em Goiás, no fim desse período.
2.4. 4º Período: de 1930 a 1942 – Da Revolução de 1930 que modificou as estruturas político-administrativas do País e motivou em Goiás a fundação de Goiânia (5-7-1942), quando se iniciou a publicação da revista Oeste, órgão de orientação política da época. Estética: de transição. É o pré-modernismo em Goiás, incluindo-se a adoção do verso livre.
2.5. 5º Período: de 1942 a 1960 – Da publicação de Oeste e do batismo cultural de Goiânia à inauguração de Brasília que, pela proximidade, resultou em maior incremento econômico e intelectual para Goiás. Acontecimentos importantes: criação da Bolsa “Hugo de Carvalho Ramos” (1943), visando à publicação de obras literárias ou científicas de autores contemporâneos residentes no Estado, I Seminário de Arte de Goiás (julho de 1956) e a criação das Universidades Católica (1958) e Federal (1959). Eu fiz o vestibular para a primeira turma de Letras da Católica.
Estética: inspirada em Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade. É considerado um período importante das letras goianas, na poesia e na prosa. Na poesia, principalmente pela chegada dos primeiros livros de Gilberto Mendonça Teles: Alvorada (1955) e Estrela-d’alva (1956). No primeiro, identificou-se com parnasianos e simbolistas. No segundo, além de traços simbolistas, há prenúncios do Modernismo (p. 30 e 31).
Derrubada a Ditadura e finda a Guerra Mundial, agitam-se os escritores brasileiros, em vários Estados. Em Goiás a consequência imediata foi a criação de uma secção da Associação Brasileira de Escritores (1945), a realização do I Congresso Nacional de Intelectuais (fev./ 1954). Um dos temas: “Problemas éticos e profissionais dos intelectuais”.
Ada Curado participou desse evento, juntamente com outros escritores do Estado, como Eli Brasiliense, Jose Godoy Garcia, José Xavier de Almeida e Bernardo Élis. Também estavam presentes expoentes das letras nacionais e internacionais, como Pablo Neruda. Logo a seguir, Ada publicou O sonho do pracinha e outros contos (1954) e Morena (1958).
São dessa fase os romances O tronco (1956), de Bernardo Élis, Élos da mesma corrente, de Rosarita Fleury e a circulação de um jornal literário, Jornal Oió, entre 1957 e 1958. O grupo Os quinze (fev./ 1956), dos novos, divulgava suas idéias no suplemento literário da Folha de Goiaz, através de Jesus Barros Boquady.
2.6. 6º Período: 1960 à atualidade (1991) – Dos reflexos econômicos, intelectuais e políticos pela proximidade de Brasília aos dias de hoje. No início da década (1962) surgiu o discutido GEN (Grupo de Escritores Novos) que culminou com a publicação de Poemas do GEN (1966) e a vinda Mário Chamie, o instaurador da Práxis, a Goiânia. Aqui ele proferiu palestras e manteve contato com intelectuais e assistiu a uma Exposição de poemas práxis realizada pelo GEN no seu 5º aniversário (1967). Desse grupo, considerado, na época, de oficio não muito sério, o tempo e a persistência permitiram os seguintes frutos em nossas letras: Miguel Jorge, Helena Chein, Heleno Godoy, Carlos Rodrigues Brandão, Luís Fernandes Valadares, Manuel B. de Brito (Prof. Nequito), Coelho Vaz, Yeda Schmaltz, dentre outros.
Em 1964 Gilberto Mendonça Teles publica o estudo e antologia A poesia em Goiás pela Universidade Federal, obra premiada em concurso de 1962. E publicação de grande valor para quem estuda a literatura feita em nosso Estado. Ainda a Universidade Federal de Goiás edita (1963) seus (dela) Cadernos de Estudos Brasileiros. Outros acontecimentos importantes: Inaugura-se a Televisão Anhanguera (1963), com espaço para escritores e artistas. O jornal O popular (final de 60/ início de 70) mantinha um caderno, o “Suplemento Cultural”, com grande espaço para as letras e as artes em geral. João Bênio dá início às atividades cinematográficas com o lançamento dos filmes O diabo mora no sangue (1969) e Simeão o Boêmio (1970). Na década de 80 Cora Coralina tem repercussão nacional com Poemas dos becos de Goiás e estóricas mais (1980) e Vintém de cobre: meias confições de Aninha (1983). É no 6º Período que Siron Franco e outros goianos são reconhecidos nacionalmente.
Nesse quadro da vida cultural, mais especificamente, de Goiânia hoje, não poderíamos esquecer o papel da Galeria Casagrande como aglutinadora de intelectuais e artistas da sociedade local, juntamente com o empenho da Função Jaime Câmara, dentre outras.
Nesse período, Ada Curado pinta esporadicamente: Vaso de flores (1984) e Casal de garças (1989) descoravam sua biblioteca. Há, também, alguns poemas em quadro ilustrados por sua filha Ceci, como “Expectativa” (9: p. 42) e por outros artistas.
Com o final do “regime militar” (1985), creio eu, poderíamos iniciar o 7º Período da vida cultural em Goiás. "

quarta-feira, março 02, 2011

Literatura goiana : um panorama histórico

Brasigois Felício

Uma síntese da literatura goiana (ou da literatura brasileira feita em Goiás, como muitos preferem) para ser justa, tem de começar pelo reconhecimento, sem ranço de ufanismo, da expressividade e qualidade do que aqui se escreve e publica. Tal fato é reconhecido por críticos de nomeada, de grandes centros culturais – não obstante o nariz arrebitado de jactância e vanglória, de alguns intelectuais, encastelados nas torres de marfim até de universidades públicas – os quais insistem em amesquinhar sua importância, e não reconhecer tal qualidade. Tal provincianismo, porém, não conseguiu impedir que se firmassem como escritores de prestígio nacional, e mesmo internacional, escritores como Hugo de Carvalho Ramos, Bernardo Elis, José J. Veiga e Cora Coralina.

Depois de quase um século do descobrimento (ou achamento) das minas auríferas na região onde os bandeirantes paulistas construiriam Vila Boa, quase nada se escreveu por estas paragens do Goyaz profundo, a não ser os depoimentos de viajantes que andaram pela província, deixando relatos importantes, como os deixados por Cunha Mattos e Alencastre. De cunha Mattos até hoje se impõe, por sua verdade e atualidade, uma frase de sabor picante: “Em Goyaz as pessoas batem mais com a língua do que com as armas”. Gilberto Mendonça Teles, poeta, professor e crítico literário, assinala, em sua importante obra A poesia em Goiás, que a história de nossa literatura se divide em seis períodos. O primeiro coincide com o descobrimento de Goiás até 1830, quando publica-se o primeiro jornal da província, A matutina Meiapontense.

Em obra intitulada “Literatura goiana – síntese histórica”, que escreveu quando proferiu palestra sobre literatura goiana, no Canadá, o acadêmico Geraldo Coelho Vaz atesta que o primeiro poeta brasileiro a se referir a Goiás usava o pseudônimo de Antonio Cordovil. Seu verdadeiro nome era Antônio Lopes da Cruz, que escreveu o Ditirambo às ninfas goianas – em verdade, usou as musas e ninfas como pretexto para bajular o governador Tristão da Cunha Menezes, que o nomeara como professor. Uma moda que pegou entre nós, entre escribas maiores e menores.


O segundo período vai de 1830 a 1903, da publicação do primeiro jornal goiano à instalação da Academia de Direito de Goiás, e a fundação da Academia de Letras, na cidade de Goiás, sede da capital da Província. “Em quase um século, muitos acontecimentos marcaram a vida cultural do Estado. Ainda no século XIX, foram criados o Liceu de Goiás e a primeira biblioteca pública, o Gabinete Literário Goiano, o Teatro São Joaquim, o seminário Santa Cruz, onde se formaram notáveis personalidades da vida cultural de nosso Estado. Bernardo Guimarães, importante romancista, reside em Catalão, na condição de Juiz de Direito nomeado.

O primeiro livro impresso, já em 1863, foi Viagem ao rio Araguaia, de autoria de Couto Magalhães, então governador. O vulto literário mais importante desta época é o poeta romântico Antônio Félix de Bulhões Jardim (1845-1887), que defendia ideais abolicionistas. Outros nomes importantes do período foram os poetas Higino Rodrigues (1869-1906), autor do famoso soneto A pinta preta, Manoel Lopes de Carvalho Ramos (1865-1911), autor do célebre poema Goyania, e mais Edmundo Xavier de Barros, Alceu Victor Rodrigues, Genuíno Correa, Matias da Gama e Silva e Augusto Eliseu.

O terceiro período da evolução histórica de Goiás, assinala Coelho Vaz – inicia-se com a instalação do curso da Academia de Direito, a fundação da Academia de Letras e a revolução de 1030. A publicação do livro Ontem, de Leo Lynce, marca o surgimento do modernismo em Goiás, com atraso de seis anos, em relação à Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922. O mais expressivo e talentoso autor deste período foi, inegavelmente, Hugo de Carvalho Ramos, autor de Tropas e boiadas.

Em estilo regionalista que provocou impacto, logo após sua publicação, este autor goiano mereceu saudação entusiástica, por parte de Monteiro Lobato, e de outros escritores e críticos de sua época. Reconhecido como gênio literário, por parte da crítica, Hugo de Carvalho Ramos não conheceu a glória literária, pois que matou-se, ainda muito jovem, em meio a uma crise de depressão. Os nomes que marcaram este período foram, portanto, Hugo de Carvalho Ramos, com Tropas e boiadas e, na poesia, Leo Lynce, com Ontem, título contraditório, pois que colocava a longínqua paisagem do sertão profundo de Goiás no cenário da modernidade literária brasileira.

O quarto período é a fase da transição literária, encontrando as mais variadas influências das escolas romântica, parnasiana, simbolista e moderna. É o período das grandes mudanças, enfatiza Gilberto Mendonça Teles, em A poesia em Goiás. Neste período vêm à publicação obras de João Accioly Barro preto, Derval de Castro páginas do meu sertão e Pedro Gomes, com Pito aceso. A poesia teve reduzida importância nesta fase. O quinto período, para GMT, inicia-se em 1942, com o Batismo Cultural de Goiânia, e a publicação da revista Oeste, indo até a realização, pela União Brasileira de Escritores de Goiás, da I Semana de Arte em Goiás, realizada em 1956.


Fato de grande importância foi a criação da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, que teve Bernardo Elis como seu primeiro ganhador, com a obra Ermos e gerais. Em 1954, realizou-se em Goiânia o I Congresso Nacional de intelectuais, com a presença de personalidades conhecidas, de outros países, como o poeta Pablo Neruda. Lamentavelmente, Gilberto Mendonça Teles não atualizou seu livro A poesia em Goiás, quando da publicação de sua segunda edição, deixando assim de registrar um número expressivo de poetas, surgidos a partir de 1970. Muitos deles ganharam concursos de nível nacional e mesmo internacional, firmaram-se como grandes poetas, mas não estão referidos na segunda edição desta obra, o que diminui sua importância histórica.


A implantação do modernismo literário brasileiro, iniciada com Leo Lynce, teve continuidade com as obras de Bernardo Elis, José Décio Filho, José Godoy Garcia, Afonso e Domingos Félix de Sousa, além do próprio Gilberto Mendonça Teles, um pouco mais tarde, como poeta e crítico de literatura. Uma de suas obras fundamentais é A poesia em Goiás, além de Saciologia goiana (poesia) e obras de referência, no gênero ensaio, estudando os manifestos da modernidade literária, e a poesia de Carlos Drummond de Andrade. Neste período destacaram-se também o romancista e contista Eli Brasiliense, com “Chão vermelho” e “Pium”. Bariano Ortêncio estreou em 1956, com O que foi pelo sertão. Ficcionista, cronista e folclorista, Bariani Ortêncio é uma das mais destacadas personalidades literárias de Goiás.

Marcam ainda este período autores como Ursulino Leão, romancista, contista e cronista, sendo o romance Maya um de seus trabalhos mais aplaudidos. Outros autores também destacaram-se, como Pedro Celestino, Geraldo Ramos Jubé, Monsenhor Primo Vieira, José Lopes Rodrigues, Demóstenes Cristino, Basileu Toledo França, Regina Lacerda, Rosarita Fleury, Nelly Alves de Almeida, Jesus Barros Boquady, Getúlio Vaz, Mário Rizério Leite, Leo Godoy Otero e Ada Curado.

O sexto período da evolução de nossa literatura está em curso, em meio a grandes transformações em nosso meio sócio-econômico-cultural. A criação de duas universidades, e a Federal e a Católica (PUC), a fundação de Brasília, em 1960, representaram uma mudança no ambiente cultural. Surgiu o GEN (Grupo de Escritores Novos), propondo uma instauração estética intitulada de Práxis, por seu criador, o poeta Mário Chamie. Pontificaram neste movimento literário goiano escritores que viriam a se tornar representativos de nossa literatura, como Miguel Jorge, Heleno Godoy, Yêda Schmaltz, Carlos Fernando Magalhães, Luiz Araújo, Luiz Fernando Valadares e Geraldo Coelho Vaz.

A Editora Oriente, liderada pelos irmãos Taylor e José Oriente, publica centenas de títulos de autores novos e já consagrados. Surgem, neste período, nomes como Gabriel Nascente, Alaor Barbosa, Maria Helena Chein, Emílio Vieira, Eduardo Jordão, Ciro Palmerston, Marieta Telles Machado, Martiniano J. Silva, Brasigóis Felício, Delermando Vieira, Dionísio Pereira Machado, Salomão Sousa, Helvécio Goulart, Luiz de Aquino, Edival Lourenço, Helverton Baiano, Almáquio Bastos, Ubirajara Galli, Tagore Biram, Pio Vargas, Itamar Pires, Edir Meireles,Fausto Valle, Jaci Siqueira, Alice Spíndola,Ana Cárita, Diva Goulart, Kleber Adorno, Lygia Rassi, Ebert Vêncio, Celso Cláudio, Augusta Faro, Leda Selma, Maria Abadia Silva, Pedro Tierra, Edmar Guimarães e Valdivino Braz.

O Gen deu significativa contribuição à renovação e modernidade dos estilos literários, como assinalou a ensaísta Moema de Castro e Silva Olival, em seu livro Gen – um sopro de renovação em Goiás – editora Kelps 2000): “Foi, sem dúvida, um divisor de águas na vida literária de Goiás, um vento promissor: conhecer, discutir, confrontar para renovar.” Uma renovação colocada em xeque, pelo ensaísta Gilberto Mendonça Teles, que via no movimento de renovação praxista em Goiás um entusiasmo juvenil, sem consistência e maturidade. O tempo veio provar que o alarde feito em torno da dita “instauração práxis” era fogo fátuo (fogo de palha) de vez que os nomes do Gen, que vieram a se confirmar como nomes expressivos, deram, sim, uma contribuição notável, por sua participação no debate literário, mas as obras que escreveram posteriormente têm (felizmente) pouco ou nada a ver com a hermética proposta estética defendida por Mário Chamie. A confirmação como escritores veio de seu talento literário, não dos postulados estéticos defendidos com ruído e furor.

A criação da Fundação Cultural Pedro Ludovico, em substituição à Secretaria Estadual de Cultura deu maior impulso à literatura, com o Instituto Goiano do Livro, dirigido pela poetisa Yêda Schmaltz, criando coleções importantes, e instituindo concursos e oficinas literárias. A editora Kelps inicia intensa atividade editorial, publicando centenas de títulos de autores goianos, divulgando-os nas Bienais do livro, realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na crítica literária destacam-se Gilberto Mendonça Teles, José Fernandes, Moema de Castro e Silva Olival, Maria Zaira Turchi, Vera Maria Tietzman e Darcy França Denófrio, dentre outros. Com três nomes consagrados, Bernardo Elis, José J. Veiga e Cora Coralina (sendo os dois últimos em nível internacional) Goiás tem notáveis personalidades na literatura, a exemplo de Paulo Nunes Batista, Valdemes Menezes, Braz José Coelho, Antônio José de Moura, William Agel de Mello, Gil Perini, Hilda Gomes Dutra Magalhães, Helena Sebba, Ercília Eckel, Adelice da Silveira Barros, Luiz Estevão, Francisco de Brito, Isócrates de Oliveira, Célia Coutinho Seixo de Brito, Anatole Ramos, César Baiochi, Hélio Rocha, Maria Terezinha Martins, Carmo Bernardes e Francisco Perna Filho.


* Brasigóis Felício é membro da Academia Goiana de Letras (cadeira 25) e vice-presidente da Ube-go (União Brasileira de Escritores, Seção de Goiás)