sexta-feira, abril 03, 2015

Editora Caminhos



Recebi exemplares dos três primeiros livros de poesia de autores goianos publicados pela Editora & Livraria Caminhos. Chegaram num capricho de regalar os olhos! Envoltos numa caixa timbrada da editora, com um decalque e um cartão com a logomarca. Mario Zeidler Filho, o editor, saudou o nosso blog "Literatura Goiana", que já teve em torno de 60 mil acessos.  Trata-se da reedição de Poemas e Elegias, de José Décio Filho, que, junto com José Godoy Garcia e Accioly Filho, firmaram o Modernismo em Goiás. E, os outros: Violetas Violadas, de Teresa Godoy, poeta de Pirenópolis; Últimos Sonetos, de Heitor Quilles, goiano que vive no Uruguai. Poemas destes autores, isoladamente, foram postados aqui no blog. Para conhecer a editora ou encomendar os livros, visite o site: www.livrariacaminhos.com.br


José Décio Filho

A Editora Caminhos acaba de editar, agora em 2015, a terceira edição do livro Poemas e Elegias, de José Décio Filho. Deixo aqui um poema do livro, que reúne toda a produção poética do autor. E também um texto publicado pelo jornal Diário da Manhã.

Para conhecer a editora ou encomendar os livros, visite o site: www.livrariacaminhos.com.br




Texto do jornal Diário da Manhã:

Se ele tivesse investido na sua produção poética, sem dúvida, seria um dos mais representativos poetas do Brasil. Embora tenha produzido excelentes contos e crônicas.  Irmão mais velho de dom Tomás Balduíno de Souza, histórico bispo que há pouco nos deixou, José de Souza Décio Filho, nasceu cidade goiana de Posse, no dia 8 de junho de 1918. Fez seus estudos em sua terra natal, Formosa e em Goiânia. Residindo no Rio de Janeiro, trabalhou no IBGE.
Voltando para Goiás, aos 22 anos, tornou-se um dos redatores da antológica Revista Oeste, nascida como parte das comemorações do Batismo Cultural de Goiânia, ocorrido em julho de 1942.
Escreveu para vários jornais, entre eles, O Popular, O Anápolis e o Tocantins. Gestor cultural foi presidente da União Brasileira de Escritores, Seção de Goiás e diretor do Departamento Estadual de Cultura.
Publicou apenas dois livros: Poemas (1942) e Poemas e Elegias, Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos (1953).  Esse último é o que o manterá sempre vivo, admirado, no contexto da poesia nacional. Sobre ele e a sua produção escreveram:
 Oscar Sabino Júnior: José Décio situa-se na corrente da linha universalista da poesia brasileira, mais voltada para os problemas transcendentes e preocupada com as reações líricas e emotivas. Quando apareceu, nenhum outro poeta de Goiás havia ainda se imposto de maneira natural e insinuante no território de nossa poesia lírica.
Bernardo Élis: A morte emudeceu um dos maiores poetas de Goiás, que foi José Décio Filho. Eu pessoalmente sinto uma tristeza tão grande quanto se perdesse um irmão da maior estima, tanto pelo poeta, como pelo ser humano que era Décio Filho.
José Décio faleceu na cidade de Goiás, no dia 4 de junho de 1976.

Teresa Godoy



Um poema de Teresa Godoy, goiana de Pirinópolis, do livro Violetas violadas, publicado pela editora Caminhos. A autora faleceu em 1997, morou em Anápolis. Trata-se de uma poesia ajustada ao seu tempo, pois rápida, mas densa. Com uso de termos goianos, sem entrar no pieguismo regional. A editora Caminhos está de parabéns por resgatar uma autora goiana que estava ausente do mercado e até mesmo da história da literatura goiana, pois este livros é o único da autora e sua primeira edição não alcançou as livrarias
. Para comprar o livro: www.livrariacaminhos.com.br

Heitor Quilles



Um poema de Heitor Quilles, goiano que está no Uruguai, do livro Últimos sonetos, publicado pela editora Caminhos. Heitor Quilles se formou em Goiânia, passou por diversas localidade, como Portugal e agora se encontra no Uruguai. Trata-se de  um livro com 53 sonetos que já nascem clássicos, pois limpos e de temática lírica, metafísica.
  Para comprar o livro: www.livrariacaminhos.com.br.

terça-feira, março 31, 2015

Crônica de Drummond sobre Cora Coralina


Príncipe dos Lobos - romance de Rogério Prego



PREFÁCIO por Henrique Martins da Silva

Príncipe dos Lobos é uma boa dose de realidade que deve ser degustada com cautela, pois um marinheiro de primeira viagem pode se engasgar ao tentar tomar de uma só vez. É envolvente, é provocante! A reflexão é incitada ao mais alto nível e os “fantasmas sociais” aparecem. Tudo aquilo que a sociedade considerou sujo, feio, impróprio, imoral, inferior, detestável, ou seja, fora dos seus padrões e interesses ou até mesmo “ameaçador à sua ordem”, tudo o que foi obscurecido, (re) surge. É um romance forte e frisante! Indicado para aqueles com espírito livre e com sede para descobrir o que está por trás das relações, das pessoas e dos lugares. “O admirável gado novo” faz parte dessa trama. É assim que os trabalhadores oprimidos e indivíduos marginalizados socialmente aparecem no livro. É assim que a banda toca! A droga, a prostituta da esquina são semblantes de um mundo perverso. O autor possui uma análise muito densa e crítica, o que instiga mais ainda o leitor, ele vai direto à veia do problema, não há rodeios...

Príncipe dos Lobos apresenta uma narrativa real, chocante e perversa no que tange o mundo das relações humanas. A trama se desenvolve a partir das aventuras e devaneios do personagem Robinson, primeiramente quando criança e depois na fase adulta. Trata-se de um jovem que advindo de uma situação miserável e com vários problemas, inclusive familiares, aprende a queimar as chamadas “pedras mágicas” como forma de sucumbir o sofrimento e talvez preencher o vazio da própria alma, pelo menos por alguns intervalos de tempo. Não é fácil, Robinson tem uma vida muito conturbada, “vive entre lobos” e é atormentado por fantasmas que são seus próprios medos, limitações e tragédias. É o retrato de um personagem vazio praticando o individualismo no caminho das pedras.

Por intermédio de um traficante e cafetão, conhecido por Draco, conhece e se apaixona por uma prostituta chamada Beatriz que o faz mudar drasticamente, abandonando o vício. Como a raposa, ela é perspicaz — sabe jogar — o influencia dizendo: “As pedras valem muito dinheiro e você as queima, seu estúpido!”. As pedras são preciosas, o recado de Beatriz fora entendido. Robinson aprendeu ainda na escola uma dança diferente, o Breakstyle que despertou a simpatia de Draco, salvando-o da morte e do abismo existencial. É quase paradoxal — “o cordeiro DANÇA entre lobos”.

A figura do lobo pode representar muitas coisas e, por isso, é apresentada de forma muito ampla no livro, surpreendendo o leitor. É como se a palavra lobo, fosse uma expressão psicanalítica para lidar com a ausência, os medos e todo o mal banalizado e repreendido. Robinson descobrira através de Draco, que os lobos são temidos, pois carregam o semblante das ruas. Todavia, desde a infância já era cercado por lobos que o dilaceravam juntamente com sua mãe, Edileusa.

Neste ambiente insalubre de relações, afundado nas drogas e vivendo nas ruas, restava a Robinson ter ainda um pouco de dignidade, dominar seus medos, traçar objetivos e cumprir a promessa que fez à mãe de dar-lhe uma vida melhor. O cordeiro tem que legislar no mundo dos lobos para ser príncipe, ou melhor, Príncipe Lobo. As pedras que antes eram queimadas passam a ser vendidas — torna-se um negócio lucrativo, capitalista. A ideia de possuir Beatriz o incentivou, estava disposto a enfrentar até mesmo Draco, quem o acolheu. O Príncipe Lobo deveria ser respeitado e temido, mas isso não o torna um vencedor. Pelo contrário, talvez seja sua própria ruína, pois o cordeiro pode até acreditar que é um lobo, porém não deixa de ser um cordeiro.

Robinson é o protagonista, entretanto, Beatriz toma a cena. Ora, o cordeiro realmente gostava dela — talvez ela representasse sua redenção. Robinson quer viver como um príncipe ao lado de sua princesa-meretriz. Mas isso não é tão fácil por causa dos obstáculos que aparecem. As pedras não são suficientes para diminuir sua agonia, seus desejos não têm limites e suas atitudes não medem as consequências. Ele está sem controle, joga o jogo de Beatriz — ela o seduz e o engana. O cordeiro fica entre o céu e o inferno — os lobos estão à espreita.

Beatriz, sagazmente, ensina tudo o que Robinson tem que fazer para que possam ficar juntos. O Príncipe Lobo agora está pronto, começa a caçada. Para alcançar seus objetivos está disposto a matar quem estiver em seu caminho e de sua pretendida. O cordeiro não é mais o mesmo, torna-se determinado, toma aspectos de um lobo e quer mostrar que pode ser um deles, ou melhor, o príncipe deles.

O romance de Rogério Prego é uma denúncia social, mostra que “os lobos” não estão somente nas ruas, podem estar mais perto do que se imagina, até dentro de nossa família. Esses lobos estão por toda a parte e se atracam na disputa por poder ou espaço. É um livro que questiona e confronta a imagem do que está além do bem e do mal, transmitida principalmente pelos veículos de comunicação. Não há soluções imediatas, pois um problema leva a outro e, por conseguinte, em direção a uma raiz muito mais profunda do que se imagina.

Nesse sentido, o autor foi bastante feliz em seu propósito, uma vez que não nos apresenta respostas prontas, mas sim um campo de possibilidades para que o leitor indague e tire suas próprias conclusões. Afinal, toda a obra é uma grande crítica social e comportamental. É um tipo de realismo fantástico que faz o leitor refletir e ensimesmar-se, pois querendo ou não, alguma parte da obra irá lhe despertar uma identificação ou familiarização pessoal. É um romance que vale a pena conferir. Está acima das expectativas que possam ser despertadas neste prefácio. Real, Intrigante, Envolvente! Só lendo para saber o que acontece com Robinson nessa aventura dantesca no mundo dos homens-lobo.

— Henrique Martins da Silva (FH/ UFG)

Link do Livro:

 ROGÉRIO PREGO nasceu em 1981 em Goiânia - Goiás. Formado em História pela UFG. É o autor de Meu Sagrado Reino da Escuridão, publicação em que apresenta os seus primeiros escritos. Príncipe dos Lobos é o seu primeiro romance publicado. Em breve, publicará o seu segundo romance: Loteria da Babilônia – Em busca da aventura particular.